Ver-O-Poema entrevistou o médico e poeta do Tocantins CÉLIO PEDREIRA. Uma prosa rápida com quem garimpa poesia no silêncio das coisas. Deitado na rede, num final de tarde, olhando o rio manso, foi que o poeta nos falou de sua sede de poesia.
Ver-O-Poema (Edmir) - Poderíamos iniciar, perguntando onde e quando o médico Célio Pedreira se encontrou fazendo poesia?
CÉLIO - Antes do médico havia o menino banhado de Tocantins. A poesia ocorreu quando a primeira canoa deixou as margens dos meus olhos e alcançou talvez uma dessas noites de sertão. Escola de sertão e a gente precisava contar no papel o que nem sabíamos haver acontecido nas férias, inventei alguma coisa parecida com sonho e a turma acreditou... acostumei com invenções e quando percebi, parecia poesia.
Ver-O-Poema (Edmir) - Seu fazer poético é marcado pelo silêncio e pela simplicidade encontrada em poucos. Fale-nos um pouco desse seu poetar.
CÉLIO - Ocorre silêncio nas coisas que nada parecem ser, daí fico observando onde elas latem ou onde elas mordem... a maioria das vezes as coisas só dormem, teimo em ficar vigiando para ver como acordam, daí medram escritos.
Ver-O-Poema (Edmir) - Quais suas publicações em livro? O que significa para você a indicação para leitura de vestibular de uma Universidade?
CÉLIO - São três pequenos livros, um deles tem o apelido de “PORTA” e reúne poemas desde os tempos do sertão (Tocantins) até o tempo das gerais (Minas)... depois de ler um caixa de escritos feitos, escolhi alguns para significar um lugar de entrar. O segundo livreto é um poema quase épico e uma canção do compositor Elizeu Lira sobre um monumento religioso plantado no cerrado pelos franciscanos na cidade de Porto Nacional, onde nasci, há mais de um século, esta publicação tem a honrosa participação de Dom Pedro Caldáliga. O outro concebi e mais três amigos também do sertão – Elizeu, Sitõe e Torres – esse tem como título “CANTIGAS DA CLARIDADE”. O primeiro recebeu a indicação para o Vestibular da Universidade do Tocantins (Unitins) em 2003, isso serviu para minha poesia aprender outras pessoas, andar por escolas, cursinhos e máquinas de fazer cópias. Num país de poesia velada quando um homem encontra outros, as lamparinas vão acendendo varandas.
Ver-O-Poema (Edmir) - Sua obra, silenciosamente empolgante para quem estuda literatura, parece percorrer caminhos ainda não trilhados. Como você define a forma como se expressa?
CÉLIO - Talvez não possua uma definição, talvez sejam insinuações de expressão, assim como um dia não consegue repetir o outro a nossa expressão também. Claro, as trilhas são parecidas... sertão, gente, mato, bicho, rio e sol.
Ver-O-Poema (Edmir) - Seus poemas no VEROPOEMA cabem em um livro. Há outros poetas no site e em outras revistas eletrônicas. Como você recebe essa profusão de escritores no meio virtual? Nesse universo literário você aponta bons escritores?
CÉLIO - Moço, não é sem sentido é a coisa se chama REDE. Existe tanta rede armada nesse mundo... A gente tem quase sempre na lembrança os escritores famosos, mas na prática o alimento é mesmo do quintal. Aqui no VEROPOEMA, um sítio onde tenho um roçadinho de poemas plantados, minha preferência é pelo escritor Edmir, ele é nortista como eu, sabe a coisa dos matos e das urbes, conversa miúdo e sua cantiga me contagia.
Ver-O-Poema (Edmir) - Já uma vez lhe falei que ao ler sua poesia me vem a lembrança de nosso poeta Manoel de Barros, hoje com 90 anos de idade. Quem você lê, quem você indica como leitura?
CÉLIO - Eu leio pouco, mas gostaria de sugerir o nome de um poeta aqui do cerrado tocantinense – Pedro Tierra. Uma escrita distinta e segura. Procure por este poeta, gente.
Ver-O-Poema (Edmir) - Que projetos você desenvolve hoje na área da literatura? Quais suas expectativas, você acredita que a poesia ainda tem muitos leitores?
CÉLIO - Tenho o projeto de continuar nas escritas, depois seguramente não sei o que fazer com elas. Sim, enquanto houver silêncio, haverá poesia e gente a cavucar o dia.
Ver-O-Poema - Para finalizar, que poema podemos ler hoje de Célio Pedreira?
COMO NUNCA ENTARDECIDO
Observe aquela renda
tecida do chão ao acidente
com matiz de anos
Acabamos de fazer gritos nela
e prendemos com cuidado
colhemos os prontos
outros trançamos com força
A tarde disse que não tardava
e a gente deitou a tarde na mornura
para abrasar essa noitinha
e fazer resultar satisfação
essas de iguarias.
Para ler os poemas de Célio Pedreira, é só clicar no link indicado na lista de links do blog.
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